A Força da Linhagem: Como a Ancestralidade Yawanawá Guia a Missão do Nipëihu na Bahia
O Santuário Nipëihu, localizado no sul da Bahia, é mais do que um centro de retiros; é um portal vivo para a sabedoria ancestral do povo Yawanawá. Sua missão de cura, aprendizado e transformação é profundamente enraizada na força de uma linhagem milenar, que se manifesta através dos guardiões e da própria essência do local.
Canumá: A Guardiã de uma Linhagem Ancestral
No cerne da autenticidade do Nipëihu está Canumá, uma figura cuja ancestralidade é “muito ancestral e forte”. Ela não se considera apenas “Yawanawá”, mas detentora do sangue de seis povos diferentes. Sua linhagem combina os povos Chuna, Camanawá (Catuqueira), Xanaua (Shamanda, Arara), Runu Nawauá, Paranauá e Escuna.
Dos seis povos que compõem sua ancestralidade, apenas o Camanawá ainda existe hoje, o que confere a Canumá uma conexão única com tradições que estariam perdidas. Ela expressa que talvez seja “a única neta do meu avô que tem esse sangue todo”, enfatizando a singularidade de sua força. Essa linhagem autêntica é o que Canumá define como a “semente da espiritualidade” do Santuário.
Marcinha: A Vivência Pura da Tradição Yawanawá
A autenticidade do Santuário é complementada pela experiência de Marcinha, mãe de Canumá, que nasceu e cresceu na aldeia Cachinauá. Sua vida inteira foi na aldeia, sem ter saído para estudar ou passar tempo fora até os 16 anos.
A aldeia Cachinauá (seringal Kaxinawá) é um território de grande importância histórica para os Yawanawá. Marcinha testemunhou e viveu a preservação da cultura e da tradição, compreendendo a existência do ser criador Xumi e seus espíritos. Essa vivência direta e ininterrupta com suas raízes reforça a base genuína de todas as práticas oferecidas no Nipëihu.

O Legado de Tatá: A Sabedoria dos Pajés e a Cura da Floresta
As terapias e medicinas da floresta oferecidas no Nipëihu são um reflexo direto do conhecimento ancestral. Canumá e Marcinha afirmam que tudo o que praticam foi aprendido com seus pais, avós e, notavelmente, com Tatá, o último pajé e nipuirru (conhecedor das plantas).
Elas enfatizam que um nipuirru é um curador poderoso, pois é o “conhecedor de planta” quem realiza o “tratamento da cura”. Tatá acreditava que “a humanidade precisa dessa cura”, tanto espiritual quanto material, e que ela não é exclusiva para os indígenas.
O Santuário, portanto, não está “inventando nada”. Está espalhando a cura dos antepassados com a “floresta em pé” como testemunha. A missão é plantar novamente as “coisas ancestrais” que já existiam “desde a época do meu bisavô”, garantindo que a semente da espiritualidade não morra.
O Futuro é Ancestral: O Sonho do Museu de Histórias “Chun Pararu”
Um dos projetos mais visionários para o futuro do Nipëihu é concretizar o sonho do avô de Canumá: registrar as histórias ancestrais do “Chun Pararu”. Seu avô desejava “desenhar cada personagem do chun pararu e contar o chun pararu”, criando um tipo de museu de histórias para que as pessoas conhecessem o significado profundo de cada narrativa.
Canumá planeja realizar esse sonho no centro, talvez com pinturas em quadros ou murais, e integrar tecnologia como QR Codes para que os visitantes possam ouvir as histórias enquanto contemplam a arte, aprofundando a conexão com a rica tapeçaria cultural Yawanawá.
Por que na Bahia? O Chamado Espiritual para Restaurar a Terra Sagrada
A fundação do Santuário Nipëihu na Bahia não foi uma escolha arbitrária, mas um chamado. Canumá relata: “não foram eles que encontraram a Bahia, foi a Bahia que encontrou nós“.
Ao descobrir que a Bahia foi o local do primeiro contato e da chegada dos colonizadores, a conexão se tornou ainda mais profunda. Para Canumá, a Bahia é uma “terra muito forte”, e foi essencial “pedir autorização para essa terra” antes de iniciar os trabalhos. Ela acredita que, por ter sido o lugar onde “primeiro foi tirado tudo”, é para lá que a ancestralidade mais forte deve retornar, como uma forma de honrar, restaurar e curar a história. Essa conexão espiritual com a terra é um pilar da missão do Nipëihu.
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